26 de outubro de 2010

Encontro com a ilustradora Ângela Serra

O Colégio da Imaculada Conceição teve a honra de receber a ilustradora Ângela Serra que gentilmente aceitou o convite da Biblioteca CAIC para um encontro informal. A ilustre convidada foi recebida pela turma B do 8.º ano que, para a receber condignamente, realizou um trabalho prévio de pesquisa sobre a sua vida e obra.

Ficámos a saber que Ângela Serra nasceu em 1984 e estudou na Escola Artística António Arroio, tendo-se licenciado em Artes Plásticas – Pintura, na FBAUL (Faculdade de Belas Artes Universidade Lisboa), em 2008. Desde então, tem trabalhado como freelancer, participando em diversas exposições colectivas. Os seus trabalhos ligam-se à Pintura, Fotografia e Ilustração.

Os alunos do 8.º B, que se iniciam no gosto pela arte, referiram que se sentiram lisonjeados pela presença desta convidada no nosso Colégio. Realizaram um trabalho de pesquisa sobre a ilustradora e, para ficarem a conhecê-la melhor, realizaram esta breve entrevista.


Questão 1 : Quando e como decidiu ser Ilustradora?
Não foi bem uma decisão. Desde muito nova, talvez com um ano e meio, comecei a comunicar pelo desenho. Todos riscamos e fazemos rabiscos… mas creio que eu tinha esse “bichinho” em excesso. Acabei por riscar as paredes não só do meu quarto, mas também do da minha avó. Desde muito nova senti gosto no desenho e, com o avançar dos estudos, fui experimentando novas técnicas (acrílico, guaches,…). Os professores diziam que eu tinha mão para o desenho e os do Secundário disseram-me que a pintura seria, para mim, uma área de realização. Mais tarde, depois de me formar, as saídas eram Pintar e Ilustrar.

Questão 2: É fácil ou difícil ser-se uma Ilustradora de sucesso em Portugal?
Não sou uma ilustradora de sucesso (risos). Estou, ainda, a começar. Para além da formação académica, fiz o estágio num museu, em Lisboa. Nesse museu, uma senhora que aí trabalhava, mostrou-me umas histórias que escrevia para a sua filha e perguntou-me se não as queria ilustrar. Eu aceitei esse desafio, peguei em duas histórias e eu ilustrei. Fizemos um portefólio que enviámos para várias editoras (texto + ilustrações) e uma delas, a 7 dias 6 noites, interessou-se por um deles e o livro foi publicado. Volto a repetir, estou a dar os primeiros passos na ilustração.

Questão 3: Sabemos que a Ângela se divide entre a Pintura, a Fotografia e a Ilustração, artes simultaneamente tão próximas e tão diferentes! Se tivesse que optar por uma, qual colocaria em 1.º lugar? Porquê?
Em primeiro lugar ponho sempre a Pintura, porque é 100% minha. Eu, seja em que situação for, se me apetece transmitir uma mensagem, essa mensagem (que eu pinto) é minha. Se ilustro os desenhos, esses desenhos são meus mas a ideia é de outra pessoa. Na pintura, parte de mim. Tem mais exploração da matéria… posso mexer em mais materiais.

Questão 4: Na Internet pudemos observar algumas da sua pinturas e retratos. Pareceu-nos que “simpatiza” com duas cores em particular: o vermelho e o preto. Há alguma razão especial?
Boa pergunta! (risos) Não sei, se calhar referem-se a uma fase do meu trabalho… eram retratos, mas tem a ver com um conceito que está por detrás… a nossa natureza autodestrutiva. O vermelho… sangue, carne…
Agora estou numa fase a preto e branco.

Questão 5: Há duas ilustrações da Ângela que nos apaixonaram “Era noite de Lua cheia.”e “Untitled”.  Pode falar-nos delas e da mensagem que pretendeu transmitir?
A “Noite de lua cheia” foi um texto que me passaram… O autor de um blogue “posso apagar a luz” passou-me o texto de autoria de uma outra pessoa. A ideia era a de uma menina que estava perdida… A menina aparece deitada, não é estar deitada de frente mas mostrar o mistério de quem se sente só e triste… A outra ilustração “Untitled” é o texto de um outro seu convidado. Tanto uma ilustração como a outra reflectiam sobre a solidão. São pintadas com uma mesa digital. Esta tem uma variedade de técnicas… não há riscos, não há contornos… É um desenho com vector. O “untitled” não é tão livre como se eu pudesse dar liberdade ao gesto (faz o gesto de quem está a pincelar, a desenhar). Pessoalmente, gosto mais da “noite de lua cheia” pois é mais livre, pude dar o meu gesto, pintar… Com o vector é como se me limitasse a unir pontos. Na "noite de lua cheia" houve mais gestualidade.

Questão 6: Todos os grandes artistas falam de uma musa ou fonte de inspiração. Onde é que a Ângela encontra a inspiração para a realização de trabalhos tão expressivos e que agarram/prendem e que por vezes também afastam pela crueza das imagens aqueles que os observam?
Sempre me fascinaram pintores que explorassem o meio social e a nossa natureza, o nosso inconsciente. Tenho alguns nomes (se calhar não os conhecem…). Santiago Idanhas, que usa e abusa da expressão visual. Mário Vitória (apontem este nome!) usa imensos ângulos, expressões… Ambos se focam no inconsciente, no que se passa na nossa mente.

Questão 7: Ângela, é uma mulher ainda muito jovem e com um futuro, por certo promissor. Qual o seu maior desejo enquanto Ilustradora?
Bom… quero conseguir fazer várias coisas dentro da minha área. Tendo em conta que a Pintura é a minha Paixão, quero poder exprimir–me em tudo, até, quem sabe, no ensino das artes na vossa faixa etária.

Questão 8: Para finalizar a nossa entrevista, Ângela, quer deixar uma mensagem para a comunidade educativa do CAIC?
Se calhar não se aplica à vossa faixa etária… (risos) Hoje ouço pais, educadores, professores dizer que não querem que as crianças se sujem… Digo-vos, deixem sujá-los, não limitem as experiências, não criem uma “bolha” que com o passar do tempo se revela negativa…
Não devem impor limites, devem deixar que as crianças e adolescentes se exprimam livremente.


Antes de fechar esta entrevista, os alunos solicitaram, ainda, ideias para a realização do cartaz do Programa Eco-Escolas. Transmitiram-lhe o grande tema “Há sinais, segue-os!”. A Ângela disponibilizou-se para ajudar e foi dizendo:
- Não se limitem ao desenho e à pintura…
- Dividam-se em grupos com diferentes visões e noções…
- Quanto ao tema, sejam simples e directos
- Usem pó de graffiti para dar noção de poluição, ponham um bocadinho de água que expande…
- Brinquem com a textura das plantas e usem como carimbo…
- Façam experiências… testem… experimentem… sujem-se…
- Pintem com as pontas dos dedos…

No final da entrevista, a nossa convidada mostrou aos alunos como usar o programa Photoshop, cujas ferramentas e a criatividade podem levar à criação de trabalhos de ilustração originais e... quem sabe... ajudar na criação no cartaz ECO-ESCOLAS.

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