11 de janeiro de 2011

Escritor do mês de Janeiro: MIA COUTO


1. Biografia
Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto, nasceu a 5 de Julho de 1955 na cidade da Beira, Moçambique. Filho de Maria de Jesus e Fernando Couto, terá encontrado no seu meio familiar um ambiente cultural e intelectual favorável ao seu desenvolvimento enquanto escritor. O pai, Fernando Couto, emigrante português natural de Rio Tinto, foi jornalista e poeta, pertencendo a círculos intelectuais, como cineclubes, onde se faziam debates. Chegou a escrever dois livros que demonstraram uma preocupação social em relação à situação de conflito existente em Moçambique. Muito cedo, aos catorze anos, Mia Couto publicou os seus primeiros poemas no jornal "Notícias da Beira". Iniciava assim o seu percurso literário dentro de uma área específica da literatura – a poesia – mas, posteriormente, viria a escrever as suas obras em prosa. Em 1972, deixou a Beira e partiu para Lourenço Marques para estudar Medicina. A partir de 1974, começou a fazer jornalismo, tal como o pai. Com a independência de Moçambique, tornou-se director da Agência de Informação de Moçambique (AIM), entre 1976 e 1979. Dirigiu também a revista semanal "Tempo" (de 1979 a 1981) e o jornal "Notícias de Maputo" (entre 1981 e 1985). Durante muitos anos, o escritor viveu sob o fogo cruzado da guerra de libertação do seu país. De 1972 a 1975 (data da independência de Moçambique) participou na guerra como membro da Frelimo, a frente de libertação liderada por Samora Machel, o que o obrigou à clandestinidade. Em 1983 publica o seu primeiro livro “Raiz de Orvalho” (poemas), seguido de um livro de contos, “Vozes Anoitecidas”, premiado pela Associação dos Escritores Moçambicanos e publicado pela Caminho em 1986. Em 1985, regressou à Universidade de Eduardo Mondlane, em Lourenço Marques, para se formar em Biologia, especializando-se na área de Ecologia. Em 1992, foi o responsável pela preservação da reserva natural da Ilha de Inhaca. Actualmente, dedica-se a pesquisas nesse âmbito, exercendo também, como biólogo, a profissão de professor universitário em diversas Faculdades da Universidade Eduardo Mondlane, além de dirigir uma empresa de estudos sobre impacte ambiental. Mia Couto é hoje considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos que escrevem em português, contando com a tradução e publicação da sua obra em diversos países como Portugal, Brasil, Angola, Inglaterra, Espanha, Noruega, França, Itália, Suécia, Alemanha, Holanda, Bélgica, Chile, Dinamarca, Grécia, Finlândia, Israel, Africa do Sul, Croácia, Republica Checa e Bulgária. A sua obra tem conhecido várias distinções, tais como: Prémio Nacional "Areosa Pena", atribuído em 1991 pela Organização Nacional de Jornalistas; Prémio Nacional de Literatura (1993); Prémio Nacional de Literatura, em Moçambique (1995); "Os Melhores de 95", atribuído pela Associação de Críticos de Arte de S. Paulo (1996); Prémio "Consagração" atribuído pela FUNDAC, em Maputo (1999); Prémio Virgílio Ferreira atribuído pela Universidade de Évora, em 1999; prémio ALOA para o melhor romance do Terceiro Mundo, na Dinamarca (2000); Prémio Mário António, concedido pela Fundação Gulbenkian (2001); Prémio África Hoje, em Maputo (2002); Prémio Procópio de Literatura (2002). A sua obra contou também com várias adaptações para cinema, nomeadamente “Terra Sonâmbula”, pela produtora Cinema Pandora, em 2001. Mia Couto, membro da Academia Brasileira de Letras, colabora ainda com o grupo teatral da capital de Moçambique, Mutumbela Gogo, e escreveu (ou adaptou) diversos textos que foram representados por este grupo de teatro. Livros seus (como “A Varanda do Franjipani” e contos extraídos de “Cada Homem é uma Raça”) foram adaptados para teatro em Moçambique, Portugal e Brasil. Em finais de Dezembro de 1996, no Casale Garibaldi, de Roma, representou-se a peça “A Princesa Russa”, adaptação para palco do conto com o mesmo título, incluído em “Cada Homem é uma Raça”. Este estatuto incontestado deve-se não só à forma como descreve e trata os problemas e a vida quotidiana do Moçambique contemporâneo, mas, principalmente, à inventiva poética da sua escrita, numa permanente descoberta de novas palavras através de um processo de mestiçagem entre o português "culto" e as várias formas e variantes dialectais introduzidas pelas populações moçambicanas.

2. Bibliografia
Muitos dos livros de Mia Couto são publicados em mais de 22 países e traduzidos em alemão, francês, espanhol, catalão, inglês e italiano.
Poesia
Estreou-se no prelo com um livro de poesia, Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Mas já antes tinha sido antologiado por outro dos grandes poetas moçambicanos, Orlando Mendes (outro biólogo), em 1980, numa edição do Instituto Nacional do Livro e do Disco, resultante duma palestra na Organização Nacional dos Jornalistas (actual Sindicato), intitulada "Sobre Literatura Moçambicana".
Em 1999, a Editorial Caminho (que publica as obras de Couto em Portugal) relançou Raiz de Orvalho e outros poemas que teve sua 3ª edição em 2001.
Contos
Em meados dos anos 80, Couto estreou-se nos contos e numa nova maneira de falar - ou "falinventar" - português, que continua a ser o seu "ex-libris". Nesta categoria de contos publicou:
• Vozes Anoitecidas (1ª ed. da Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1986; 1ª ed. Caminho, em 1987; 8ª ed. em 2006; Grande Prémio da Ficção Narrativa em 1990, ex aequo)
Cada Homem é uma Raça (1ª ed. da Caminho em 1990; 9ª ed., 2005)
Estórias Abensonhadas (1ª ed. da Caminho, em 1994; 7ª ed. em 2003)
Contos do Nascer da Terra (1ª ed. da Caminho, em 1997; 5ª ed. em 2002)
Na Berma de Nenhuma Estrada (1ª ed. da Caminho em 1999; 3ª ed. em 2003)
O Fio das Missangas (1ª ed. da Caminho em 2003; 4ª ed. em 2004)
Crónicas
Para além disso, publicou em livros algumas das suas crónicas, que continuam a ser coluna num dos semanários publicados em Maputo, capital de Moçambique:
• Cronicando (1ª ed. em 1988; 1ª ed. da Caminho em 1991; 7ª ed. em 2003; Prémio Nacional de Jornalismo Areosa Pena, em 1989)
O País do Queixa Andar (2003)
Pensatempos. Textos de Opinião (1ª e 2ª ed. da Caminho em 2005)
E se Obama fosse Africano? e Outras Interinvenções (1ª ed. da Caminho em 2009)
Romances
E, naturalmente, não deixou de lado o género romance, tendo publicado:
Terra Sonâmbula (1ª ed. da Caminho em 1992; 8ª ed. em 2004; Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995; considerado por um juri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX)
A Varanda do Frangipani (1ª ed. da Caminho em 1996; 7ª ed. em 2003)
Mar Me Quer (1ª ed. Parque EXPO/NJIRA em 1998, como contribuição para o pavilhão de Moçambique na Exposição Mundial EXPO '98 em Lisboa; 1ª ed. da Caminho em 2000; 8ª ed. em 2004)
Vinte e Zinco (1ª ed. da Caminho em 1999; 2ª ed. em 2004)
O Último Voo do Flamingo (1ª ed. da Caminho em 2000; 4ª ed. em 2004; Prémio Mário António de Ficção em 2001)
O Gato e o Escuro, com ilustrações de Danuta Wojciechowska (1ª ed. da Caminho em 2001; 2ª ed. em 2003)
Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra (1ª ed. da Caminho em 2002; 3ª ed. em 2004; rodado em filme pelo português José Carlos Oliveira)
A Chuva Pasmada, com ilustrações de Danuta Wojciechowska (1ª ed. da Njira em 2004)
O Outro Pé da Sereia (1ª ed. da Caminho em 2006)
O Beijo da Palavrinha, com ilustrações de Malangatana (1ª ed. da Língua Geral em 2006)
Venenos de Deus, Remédios do Diabo (2008)
Jesusalém [no Brasil, o livro tem como título Antes de nascer o mundo] (2009)
Prémios
• 1995 - Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos
• 1999 - Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra
• 2001 - Prémio Mário António, pelo livro O último voo do flamingo
• 2007 - Prémio União Latina de Literaturas Românicas
• 2007 - Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura
Academia Brasileira de Letras

3. Livros de Mia Couto disponíveis na BE CAIC
Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra
• O Fio das Missangas
• O beijo da palavrinha
• Jesusalém
• Mar me quer

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