A partir de hoje, Sophia de Mello Breyner Andresen será muito evocada, relembrada, homenageada. O seu espólio foi formalmente entregue, na quarta-feira passada, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, onde foi inaugurada uma exposição sobre a autora. Decorre, hoje, um colóquio na Gulbenkian sobre a sua vida e obra. Aproveitando a “onda”, partilhamos este poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.
MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
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