26 de novembro de 2010

Um livro que não esqueci... (Professor António Meneses)

Música de Praia – Pat Conroy
A história começa em Roma, onde encontramos o narrador e protagonista, Jack McCall, que fugiu da sua grande família sulista e dos seus problemas para criar a sua filha, Leah. Rapidamente percebemos que a mulher de Jack, Shyla se suicidou, na Carolina do Sul, atirando-se de uma ponte, cinco anos antes do início da história. Jack, tal como se esperava está destroçado por causa da morte de Shyla e não consegue lidar com a situação. O suicídio de Shyla, as razões para ele e a procura, de Jack, de respostas para estas perguntas constitui a cola que mantém Música de Praia consistente através das suas longas analepses e por vezes histórias irrelevantes do presente.

Jack pegou na sua filha de três anos e afastou-a das famílias que o magoaram imenso depois da família de Shyla o ter processado (e ter perdido) para obterem a custódia de Leah. Cinco anos mais tarde Leah está a fazer perguntas acerca da família de que Jack nunca fala quando Jack este encontra dois amigo do tempo do liceu, Mike Hess que se tinha tornado um importante produtor de Hollywood e Ledare Ainsley, que tinha namorado com Jack quando este andava no liceu, e que não se importaria de o voltar a fazer. Enquanto Ledare e Jack se vão re-reconhecendo, Jack recebe um telegrama de um dos seus cinco irmãos onde se diz que a mãe está a morrer.

Regressando a casa para Leah conhecer a sua família e para ajudar a mãe a morrer, Jack, juntamente com Ledare concorda em ser co-autor de uma mini-série que Mike quer fazer sobre histórias sulistas americanas. Totalmente embrulhado nesta história Mike tenta realmente terminar esta mini-série com a história de um amigo de infância, Jordan Elliot, que pensava ter-se suicidado depois do liceu, mas que é, na realidade, padre em Roma, e é ainda procurado pelas autoridades americanas por algo que só é referido no fim do livro.

Jack é o mais velho de cinco rapazes e a rivalidade entre irmãos e as piadas secas oferecem-nos muitas gargalhadas ao longo da história. Dupree, o segundo filho, trabalha num hospital mental e não é muito desenvolvido. Dallas trabalha como advogado. Tee é o mais sensível dos irmãos. Trabalha com professor de crianças com autismo e finalmente temos John Harden, o excêntrico esquizofrénico da família.
Através de analepses conhecemos a mãe de Jack, Lucy e como cresceu nas piores condições de pobreza (Esta analepse inclui violação, um suicídio e um assassinato levado a cabo por um rapaz de nove anos). Ficamos a conhecer o Grande Judeu, o pai de Mike e as suas lutas horrendas contra os Cossacos (Esta analepse inclui uma violação brutal, duríssimas cenas de assassinatos, decapitação e uma cena digna de Lorena Bobbit). Duas das sequências mais duras foram as histórias dos pais de Shyla, George e Ruth Fox, sobreviventes do Holocausto (Esta analepse inclui muitas violações, infanticídio e brutalidade para além da tortura).

Música de Praia foi escrito na primeira pessoa, do ponto de vista de Jack McCall. Algumas descrições não são recomendáveis para pessoas sensíveis. É uma história interessante, poderosa e que leva a uma leitura compulsiva. Gostei particularmente de ler os julgamentos e as tribulações da família.
É um livro que aborda muitos tópicos: o Holocausto, o suicídio de um ente amado, o ultrapassar de inícios difíceis, o abuso de crianças, a violação, o alcoolismo, a doença mental, a leucemia e a Guerra do Vietname.

"- Sou um homem muito frio, mãe. Há algo em mim que arrepia aqueles que tentam chegar-se a mim (...). Não quero ser assim, mas, mesmo quando estou consciente disso, não consigo ser diferente. Disse à Leah que o amor é mais uma coisa que tem de ser ensinada. Penso que pode ser dividido em várias peças numeradas para tornar o seu manuseamento mais fácil. Acho que ninguém me ensinou, mãe. E acho que passou por cima de ti e do pai. Toda a gente está sempre a falar de amor. É como o tempo. Mas como é que um homem como eu aprende? Como é que eu o faço sair da parte mais profunda do meu ser? Se eu soubesse como soltá-lo, partilhá-lo-ia com todos. Distribui-lo-ia generosamente à minha volta. Mas ninguém me ensinou os passos dessa dança. Ninguém desmontou o amor para eu ver como era feito. Acho que a única maneira como posso amar é em segredo. Há um rio profundo em cujas águas me posso saciar quando não há ninguém por perto. Mas como está escondido e por descobrir, não posso chefiar uma expedição até lá. Por isso amo de modo estranho e oblíquo. O meu amor torna-se numa espécie de conjectura e não me sacia nem me apazigua a dor."

Professor António Meneses

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