7 de março de 2011

Concurso Literário “Quem conta um conto… acrescenta um ponto” (1º Lugar C.A.I.C)

Titulo do livro seleccionado da colecção: O Mandarim
IV
 Depois pensei:
Foi na sonolência de um sonho e sem verdadeira consciência do que estava a fazer, que toquei a campainha que pôs fim à vida de Ti-Chin-Fu e me fez herdar os seus bens.
À medida que o mundo foi caindo aos pés da minha fortuna, eu fui percebendo o vazio a que me conduzia essa situação e o mal que deveria estar causando aos legítimos herdeiros do mandarim.
Tudo tentei para remediar o que tinha acontecido e, ao aperceber-me da inutilidade dos meus esforços, desesperei e senti a proximidade do meu fim.
De facto, quando nos apossamos do que não é fruto do nosso trabalho, é como se matássemos um qualquer mandarim distante e causássemos a miséria a um incontável número de pessoas.
Nesta encruzilhada da minha vida, só uma atitude de “Esperança” me pode devolver sentido, serenidade e paz interior, que me ajudem a minorar o sofrimento que causei.
Preciso de estar atento ao que se passa ao meu redor, ajudando o faminto a obter a cana para pescar o peixe de que necessita e o desempregado a conseguir o trabalho que lhe permita ganhar o seu sustento e o respeito pela sua dignidade de pessoa.
Tenho que investir e não esbanjar os meus bens, tenho que promover e valorizar as pessoas, tenho que me esforçar para que a minha riqueza ou a minha assistência não se tornem fruto de cobiça ou factor de humilhação.
É necessário que deixe de me lamentar e de me afundar no desespero. É preciso que abandone a ociosidade e trabalhe para valorizar o que tenho. Só assim poderei recuperar a tranquilidade e a paz de espírito que me permitam tentar fazer alguma diferença perante as situações de carência e de necessidade com que me depare.
Tenho que dar à “herança” de Ti-Chin-Fu um sentido de “Vida” e não permitir que ela continue a ser um caminho e uma expressão de “Morte”. Os milhões que detenho só serão verdadeiramente do demónio se eu me deixar possuir pela força do seu fascínio.
Consigo perceber agora que o desespero pode assaltar quem se deixa seduzir pelas riquezas e pela loucura da sua posse.
Sei que o antigo Teodoro morreu quando tocou aquela malfadada campainha da ambição, mas estou igualmente certo de que poderá “ressuscitar” se não se deixar esmagar pelo peso da sua culpa.
Ana Patrícia Rodrigues Boavida Fernandes

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